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Ciclos e alocação: uma reflexão sobre o momento

Por Paulo Sodré

Quase tudo é cíclico e essa é uma valiosa lição que devemos tomar em qualquer momento da vida. Howard Marks, com sua inigualável sabedoria, nos lembra que ciclos sempre prevalecem, a maioria das coisas são cíclicas e as maiores oportunidades de ganhos e perdas acontecem quando nos esquecemos disso. A razão básica para o acontecimento de ciclos, segundo Marks, deve-se ao envolvimento dos humanos; coisas mecânicas podem se comportar de maneira linear, mas pessoas tendem a agir de maneira emocional, inconsistente e não tão racional, como defendido por teóricos dos mercados eficientes.

Os ciclos econômicos são muito influenciados pelas políticas monetárias: se temos juros altos, pessoas não vão pegar dinheiro emprestado para consumir, empresas não acessarão crédito para expandir uma fábrica ou contratar novos funcionários, portanto o resultado tende a ser um aumento no desemprego e uma desaceleração econômica. Para corrigir o problema, o Banco Central abaixa os juros, estimula a economia, as empresas tomam crédito, contratam, pessoas poupam menos, gastam mais e, portanto, a inflação sobe. Para controlar os preços o Banco Central sobe juros… E assim se dá o ciclo de crédito.

A considerável redução da Selic no Brasil ao longo dos últimos anos foi surpreendente, principalmente maneira como se deu. Há apenas seis anos, o país passava pela maior taxa praticada internamente desde 2005, com uma crise local sem precedentes na história brasileira, que gerou um choque negativo de oferta: inflação e desemprego subiram juntas. Novamente passamos por uma crise, dessa vez global e de origem sanitária, com impactos relevantes na economia. Devido ao cenário deflacionário, o Comitê de Política Monetária levou os juros curtos para 2% ao ano, acompanhando o movimento dos grandes bancos centrais no mundo inteiro, que praticaram uma forte expansão monetária para estimular a economia e minimizar os impactos causados pelo novo Coronavírus.

A forte redução dos juros, acompanhada de um aumento significativo dos custos de produção fizeram a inflação no Brasil disparar nos últimos 12 meses, atingindo 8,06% de Maio de 2020 a Maio de 2021, quando medida pelo IPCA; se olharmos pelo IGP-M, índice usado para reajuste do preço dos contratos de aluguel, os preços já sobem mais de 30% no período. Tal pressão inflacionária fez com que a taxa básica precisasse voltar a subir, pela primeira vez em cinco anos e já existem projeções que apontam para uma Selic na casa dos 7% ao final deste ano, patamar mais alto desde o início de 2017.

Peter Lynch, um dos maiores investidores de ações de todos os tempos, nos ensina que o estudo de filosofia e história, quando se trata de investimentos pode ser mais eficiente do que estudar estatística e matemática, uma vez que ele considera investir uma arte e não uma ciência. Se combinarmos a história com alguns números, vemos uma tendência cada vez mais deflacionária no mundo, porém com picos inflacionários de curto prazo, o que fazem com que a queda dos juros no longo prazo, sofra, porventura, correções em determinados momentos. O fato é que, uma vez que a inflação que atinge o Brasil for controlada, o país lidará com a alta taxa de desemprego, que pode pressionar a Selic novamente para baixo, seguindo o ciclo de tendência de baixa nos juros.

Uma das perguntas que mais recebo é: o momento em que a gente está é bom para investir? Respondo sempre: todo o momento é bom e oferece diferentes oportunidades em diferentes classes de ativos. Devemos aproveitar cada parte do ciclo para diversificarmos nosso portfólio de acordo com o que temos disponível. Não é porque um ativo ou indicador econômico está indo bem ou mal que irá continuar desta forma; o pensamento de que o que está subindo vai subir indefinidamente e o que está caindo vai chegar a zero é um dos maiores erros do investidor no curto prazo. Aprendemos com Nassim Taleb que isso acontece porque somos treinados para visualizar a informação que está diante dos nossos olhos, ignorando o que não conseguimos enxergar. O exercício constante de observar os ciclos e a história dos mercados, é uma grande vantagem para o investidor, que pode e deve usar essa percepção para se beneficiar ao longo do tempo.

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