Uma revisão do cenário atual
Por Paulo Sodré
Os últimos dois anos foram peculiares na história recente do mundo, com uma pandemia, há muito, não vista. Historicamente, leva tempo para os indicadores econômicos se recuperarem em períodos parecidos. Quando olhamos para as carteiras de investimentos temos algumas questões importantes a serem levantadas:
1 – Em 2020 tivemos a menor taxa de juros da história do Brasil, chegando a 2% na maior parte do ano passado. O Brasil é um país acostumado a taxa de juros altos, desde o início do Plano Real, na maioria das vezes a Selic ficou acima de 10% ao ano. Além disso, em março, o índice Ibovespa, nosso principal indicador para a bolsa de valores, chegou a cair quase 50%; no mesmo ano, no entanto, houve uma recuperação que fez com que ele fechasse 2020 com uma rentabilidade positiva de 2,92%.
2 – Efeitos do ocorrido em 2020 estão refletindo em 2021 e os efeitos de 2021 serão refletidos em 2022. Taxa de juros excessivamente baixa é um gatilho para a inflação, que nos últimos tempos tem estado novamente muito alta, fato que não ocorria desde 2016. O IPCA acumulado dos últimos 12 meses (agosto a agosto) está em 9,68% e o mercado projeta que, em 2021, este deve terminar com alta de 8,35%.
3 – Investimentos são sempre uma análise comparativa. Nosso portfólio deve ser avaliado em comparação a alguns índices, já que devemos diversificar para proteger nosso capital e rentabilizar de forma adequada. Ora, não faz sentido que olhemos apenas para o retorno absoluto da carteira – uma rentabilidade de 15% em um ano que a Selic tenha ficado em 20% e a bolsa rendido 16% é, em geral, muito ruim; uma rentabilidade de 5% em um ano que os juros acumulados foram 2% e a bolsa 3% é, provavelmente, muito bom.
Dadas as considerações acima, vamos para o cenário de 2021
Desde o início do ano, praticamente todos os indicadores econômicos foram revisados para cima, tanto os positivos quanto os negativos (PIB, inflação, juros e expectativa para o retorno dos investimentos em renda variável). A aceleração da inflação trouxe de volta os juros altos; a Selic deve chegar a dois dígitos no ano que vem e o mercado já projeta que essa taxa terminará o ano atual em 8,25%, porém, a cada semana essa expectativa aumenta.
Por definição, índices de bolsa de valores e taxa de juros caminham em sentidos opostos; os resultados dos lucros das empresas no primeiro trimestre do ano foram surpreendentes e isso fez com que alguns analistas projetassem o Ibovespa a 150 mil pontos no final do ano. O índice chegou a atingir 131 mil pontos em junho, porém, na no pregão desta segunda-feira, 20, fechou a 108.843, uma queda acumulada de 8,55% em 2021. Já o CDI, o “irmão” da Selic, que é nossa principal referência para a maioria das carteiras, está em 2,30% no acumulado do ano. Outro indicador importante e menos conhecido, o IFHA (Índice de Hedge Funds Anbima), que é o indicador da rentabilidade média dos fundos multimercados no Brasil, está com uma modesta alta de 2,09%. As carteiras de fundos imobiliários também estão sendo penalizadas, dado a alta correlação inversa dessa classe com a taxa de juros; o IFIX, acumula queda de quase 6% no ano.
Um ambiente desafiador como o que passamos sugere possíveis mudanças nas alocações em geral. Algumas questões são importantes aqui: 1 – O mercado precifica os acontecimentos com antecedência e isso tem trazido excelentes oportunidades nas rendas fixas de prazos mais longos, onde temos a oportunidade de construir proteções contra a alta da inflação e dos juros; 2 – Bolsa é uma classe de ativos para longo prazo, momentos em que ela cai é muito importante continuar fazendo alocações, uma vez que “compramos mais barato”; 3 – Enquanto o Brasil sofre com suas questões internas, o mundo oferece oportunidades de investimentos que faz com que consigamos nos proteger de problemas locais, como alocações em bolsas internacionais, que pouca correlação possuem com o Brasil.
A diversificação, como sempre, continua sendo a chave de bons investimentos, porém a classe de ativos na qual alocamos precisa ser constantemente revisada. O compromisso com nossos investidores é de longo prazo e sempre traremos soluções independente do momento de mercado.
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